Neste 24 de agosto, ídolo e único remanescente vivo do Furacão de 49 comemora sua vida e história que se entrelaçam ao Athletico
Jackson Nascimento, o segundo maior artilheiro da história do Athletico, celebra seus 100 anos de vida neste 24 de agosto, no mesmo ano que o clube que ele ajudou a chamar de Furacão também completa seu centenário. E não poderia ser diferente, Jackson e Athletico dividem e compartilham sua história como um só. Sem Jackson, o Furacão não existiria. Assim como o Jackson não seria o Jackson sem a camisa rubro-negra.
Nascido quatro meses depois da fundação do clube, o ex-jogador é o que podemos chamar de atleticano de berço. Seu pai, José Tomaz Nascimento, já era torcedor do rubro-negro e o amor foi passando de geração em geração e continua até hoje. Natural de Paranaguá, criado em Antonina, Jackson veio para Curitiba estudar. Foi aluno no Internato Liceu Rio-Branco e foi lá que o diretor da escola, que era conselheiro do Athletico, descobriu o jovem potencial e o colocou nas categorias de base do clube.
Seu José Nascimento era presidente do Clube Atlético Antoninense, sendo assim, o filho jogou no time do pai, mas retornou ao Athletico em 1942 para compor a equipe composta por estudantes. Dividia seu tempo entre estudos e futebol até assinar seu primeiro contrato profissional com o rubro-negro em 1944. Virou peça-chave no time e, no ano seguinte, já conquistou o primeiro título disputado em uma melhor de três de athletibas que entraram pra história. Nessa época, jogava como meia direita e fazia dupla com o veterano Lupércio.
Mas foi com outra dupla que Jackson realmente entrou de vez pra história. Ao lado de Cireno, passou a jogar mais na faixa da meia esquerda ofensiva e, juntos, formaram o ataque mortal do time de 1949, que de tanto vencer por goleadas, recebeu a alcunha de Furacão, apelido que nunca mais deixou o Athletico e, de tanto adotado, hoje é símbolo da nova marca/escudo do clube.
Jackson e Athletico se separaram apenas uma vez. Em 1950, o Corinthians fez uma proposta irrecusável tanto para o clube quanto para o jogador. Foi bem também por lá, sendo campeão, mas não quis renovar o contrato. Decidiu voltar para Curitiba diante da possibilidade da carreira no Direito e também voltar para os braços do seu Furacão.
E voltou já sendo artilheiro do campeonato paranaense com 21 gols. Inclusive, em sua volta, protagonizou um conto que foi parar em livro escrito por Carneiro Neto e bem relembrado por Sandro Moser. No seu primeiro Atletiba depois do retorno, o Coritiba vencia por 1 a 0 e a torcida rival decidiu provocar o jogador gritando “cadê o Jackson?”. Até que o camisa 10 acabou recebendo a bola, e com seus dribles encantadores, entorta o ídolo coxa Fedato e marca um golaço. Na comemoração, claro, ele devolveu a provocação indo até a arquibancada coxa-branca, bateu a mão direita no pé esquerdo e com um sorriso respondeu: “O Jackson está aqui”.
Decidiu encerrar em carreira em 1957, com 30 anos, porque sentiu que estava sendo mais torcedor do que jogador em campo. Mesmo assim não abandonou o campo, se arriscou como treinador no ano seguinte ao lado de Caju, os dois acabaram assumindo o comando técnico da equipe e foram campeões. Apesar disso, Jackson decidiu não se aventurar mais no comando e foi seguir carreira como Procurador Federal, mas nem por isso “largou” o Athletico. Integrou a diretoria por várias vezes, foi Diretor de Futebol e de Patrimônio e sempre esteve ligado ao clube.
Ao todo, foram 143 gols em 196 jogos. Três títulos: 1943, 1945 e 1949. Segundo maior artilheiro da história, mas o maior em atletibas, ao lado de Marreco. O maior goleador da atual Arena da Baixada. Segundo números do próprio Athletico, Jackson balançou a rede em 90 jogos. Em 39 deles, fez dois gols. Em 24, fez hat-tricks. E em quatro fez o raro poker: quatro gols em uma só partida. Não bastasse tudo isso, quis a história ainda dar um detalhe que aperfeiçoa toda a caminhada: em 1949 foi o primeiro ano em que se passou a usar numeração na camisa e Jackson foi, então, também nosso primeiro camisa 10 anotando justamente 10 gols na campanha.
Em várias e em todas as oportunidades que tem de falar do Athletico, Jackson se declara.
“Joguei, ganhei, perdi, vivi. Sou suspeito para falar. Jamais vou dizer qualquer coisa contrária ao Athletico. Se eu for em algum lugar e encontrar outro athleticano é capaz de a gente se abraçar, se beijar. É um amor radical. É a melhor sociedade esportiva que eu conheço”, disse em entrevista ao Ge. “Eu sou capaz de morrer pelo Athletico. E serei sepultado em caixão rubro-negro, de tanto que os athleticanos me querem bem. Entro no Athletico sem abrir portas, sem pegar cadeiras, se souberem que sou eu todo mundo sai da frente”, brincou.
Ele também contou como era jogar pelo Athletico vindo de uma família fanática pelo rubro-negro. “Na minha descendência familiar todos eram atleticanos, meus pais, meus irmãos, todos. Quando eu estava com a bola eu sabia que todos estavam comigo, estavam em casa, mesmo que no rádio, esperando que eu fizesse alguma coisa. Aquela responsabilidade me dava vontade de cumprir o meu dever familiar e fazia que eu produzisse mais do que era possível”, contou.
E apesar de toda sua história, sempre foi humilde. Quando perguntado sobre o time de 1949, fez questão de enaltecer e falar que o maior craque do time era na verdade nosso grande goleiro Caju e que a principal arma do time era o trabalho constante. “Nós treinávamos muito, e o treinamento era quase um jogo. Se um companheiro deixasse de me passar uma bola quando eu estivesse na frente do gol e ficasse tentando o terceiro e o quarto drible, a gente parava o treino e fazia entender que poderia ter saído o gol. Conversávamos muito. O diferencial era a velocidade do jogo, tínhamos um treinador que exigia o mínimo de tempo com a bola no pé, quando recebíamos a bola já tínhamos as atitudes prontas na cabeça. A bola vinha e você: pra lá, pra lá, chutava no gol, cabeceava. Não precisava caminhar com a bola no pé”, descreveu.
Chegou a afirmar que “não era um grande jogador, mas um bom jogador”, mas Jackson foi um verdadeiro craque que merecidamente compõe o hall dos maiores ídolos da história do clube que ele ajudou a construir e escrever junto com as suas linhas essa história centenária cheia de glórias do passado e feitos no presente que só foram possíveis graças a esses 100 anos juntos.
Viva o nosso furacão Jackson!