Com três zagueiros o Athletico apostou em sistema defensivo coeso, mas não covarde, e mostrou evolução nas jogadas de bola parada; veja gol e análise
O empate em 1 a 1 entre Maringá e Athletico é um símbolo de como é mal gerido o Campeonato Paranaense. Erro crasso de arbitragem e gramado muito ruim causaram jogo de baixo nível técnico e que teve nas bolas paradas a alçadas para a grande área as únicas possibilidades de gol.
Maurício Barbieri escalou time com um zagueiro a mais, mas não necessariamente isso significa receio, ou covardia, como colocado por alguns. E a bola parada mostrou evolução, com gol marcado e variedade de cobranças.
A reportagem da Trétis esmiúça os principais pontos de repercussão da partida:
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Quais são as obrigações de uma Federação quando se fala do campeonato que organiza? Arbitragem e estrutura, para apontar o mínimo, do mínimo.
O Athletico questionou algumas decisões da arbitragem no estadual desta temporada, como a expulsão fantasma de Léo, no Atletiba, e o pênalti não marcado em batida de João Cruz, contra o Cascavel. Errar é humano e, talvez, perdoável, ainda mais quando não se tem o auxílio da tecnologia.
As quartas de final marcaram o início da utilização do Var e o Furacão teve dois gols inicialmente anulados e depois validados na segunda perna, contra o Azuriz. Erro no campo, correção na cabine.
Contra o Maringá, erro no campo e erro na cabine. A bola para no braço do defensor após passe de Isaac. Braço aberto, em posição anti-natural e que impacta diretamente na trajetória da bola. Pênalti. Não para Luiz Alexandre Fernandes, árbitro, e Adriano Milczvski, árbitro de vídeo. Um absurdo.
A estrutura, ao menos, compensa a arbitragem ruim? O estado do gramado do Willie Davids nega teoria. Uma infestação de animais que se alimentam da grama ocorreu e fez que com o futebol estivesse impraticável em Maringá para uma partida da semifinal do campeonato. Dos mais importantes jogos da competição.
A alternativa razoável é a remarcação ou realocação do jogo. Bola rolou como se nada tivesse acontecido. E, naturalmente, o nível do futebol foi baixo entre bichos mortos e buracos. A Federação Paranaense deprecia o próprio produto e coloca em risco a integridade física dos jogadores em campo.
O estádio pertence à prefeitura de Maringá, que não realizou manutenção pois precisaria fechar o estádio em meio ao Paranaense.
Barbieri foi covarde?
Sempre que há a opção de sair de um esquema com quatro defensores, para cinco, o chavão da covardia aparece. “Treinador x está com medo”, “Na minha época, o Athletico não tinha medo de ninguém”, dizem. Pode, sim, indicar receio, mas parar nisso é raso.
Armar um sistema defensivo mais coeso era necessário para encarar um Maringá que apostava muito nas bolas alçadas na área e na transição ofensiva. Fato é que, com um zagueiro a mais, o Athletico tem menos jogadores na defesa do que teve na sequência de jogos contra Cascavel (0 a 0), Londrina (1 a 0 para o Athletico), Azuriz (0 a 0) e Pouso Alegre (2 a 0 para o Athletico).
Nestes, o Furacão armou linha com seis “defensores” e atuou em bloco baixo para encerrar sequência que igualava as defesas de Athletico e Paraná Clube, rebaixado, em número de gols sofridos naquela altura da competição. O quarteto defensivo se posicionava em pouca amplitude e os pontas desciam à zaga para acompanhar individualmente os laterais adversários.
Há uma mudança essencial disso para o 5-2-3 armado para a partida contra o Maringá: há um jogador a mais na frente, para a tentativa das transições, dos contra ataques. A intenção era aproveitar a velocidade de Luiz Fernando e Kevin Velasco, com a bola longa de Zapelli, mas não funcionou.
A impossibilidade de fazer com que a bola rolasse, pelo estado do gramado, é fator importante, mas também há o fato de que o Maringá não atacava com seus dez jogadores de linha e mantinha igualdade numérica – se não superioridade -nas tentativas do Athletico.
E o efeito, defensivamente, foi sentido. Com a linha de cinco sendo reforçada por Raul ou Felipinho, a depender de que lado a bola estava, restava apenas um jogador com cacoete de marcação para inibir os cruzamentos.
A bola rodava muito fácil de um lado para o outro e os articuladores maringaenses tinham espaço para encontrar bons cruzamentos. O primeiro gol do Dogão no jogo sai com Negueba com espaço para finalizar, a bola é desviada e Maranhão completa.
Barbieri não foi covarde, fez uma escolha completamente justificável e que não significava ser mais ou menos defensivo. Esquema montado, porém, teve problemas ao longo do jogo.
Mudança na bola parada
Se, pelo estado do gramado, era impossível progredir por baixo, times buscaram a bola aérea como principal opção ofensiva. Sem um centroavante de referência, era inviável projetar que o Athletico aproveitasse dos cruzamentos com bola rolando, então a opção pelas bolas paradas era o melhor dos mundos.
As duas primeiras batidas de escanteio do Furacão no jogo foram de Zapelli, na segunda trave. A primeira encontrou Velasco livre, para cabeçada para fora em grande chance. A segunda também teve o ponta direita como alvo, mas Dheimison cortou em lance complicado.
Em outro escanteio, Velasco levantou as duas mãos para indicar jogada ensaiada. Na batida, passou pela bola e deixou para que Zapelli cruzasse para a entrada da grande área, mas sem aproveitamento pelo ataque.
Minutos depois, Zapelli alçou muito bem e Tobias Figueiredo colocou na rede para empatar o jogo em 1 a 1 em batida de falta. Em local parecido, argentino teve cobrança direto pro gol e quase surpreendeu Dheimison, que teve dificuldades para segurar.
Variedade e eficiência marcaram tentativas na primeira etapa e marcam ponto positivo de preparação para jogo que teria nesse aspecto talvez o mais importante. Desde a partida contra o Azuriz no último final de semana as bolas paradas mudaram, com a opção do escanteio curto sendo aproveitada pela primeira vez na temporada, mas ainda sem gerar lances de perigo.
Gol marcado por Figueiredo foi o terceiro que saiu diretamente de bolas paradas. Di Yorio desviou escanteio batido na primeira trave contra o Rio Branco e Palacios completou na segunda, contra o Londrina.
Número se iguala ao de toda a temporada 2024, quando apenas Mastriani (Athletico 4 x 0 Cuiabá), Madson (Danubio 0 x 1 Athletico) e Julimar (São Paulo 2 x 1 Athletico) foram às redes dessa maneira.
De cabeça, um zagueiro não marcava pelo Athletico desde outubro de 2023, quando Kaíque Rocha fez o gol da vitória atleticana contra o Grêmio, por 1 a 0. Lá se vão 515 dias.
Como fica pro Athletico?
Empate será resolvido na próxima quarta-feira (19), às 20h, na Ligga Arena, quando o Athletico volta a campo.