Athletico vai se afastando da mentalidade campeã e se aproxima cada vez mais de um 5° vento: o Sofrimento
“Capacidade de sofrimento, o sentido de entreajuda e capacidade de sacrifício”
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Foi com este discurso que Paulo Autuori deu sua coletiva após a vitória magrinha contra o Metropolitanos da Venezuela.
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O Athletico de 2021 começou o ano do mesmo jeito que o Athletico de 2020 terminou: sempre com a sensação de que está batendo no teto. Sem entrar no detalhamento do mérito sobre qualidade de elenco julgo que temos um grupo bem ok para o nível dos campeonatos que enfrentamos. Se não é um grupo com força para ser campeão Brasileiro entendo que, se bem trabalhado, poderia ser uma equipe bem interessante para Brasileiro, Copa do Brasil e Sulamericana. O que nos freia?
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No ano passado, por todas as escolhas bizarras que conhecemos, chegamos a patética situação de virar o turno do Brasileiro com 16 pontos e atrás do virtual rebaixado Coritiba. Autuori veio e nos salvou. Chegou em um momento desesperador em que precisávamos de qualquer ponto possível. A torcida não estava “nem aí” para performance. O que realmente importava era se aproximar dos 45 pontos. Fato é que apesar da excelente capacidade de organização de seus times em campo, Autuori mostra em 2020/2021 a mesma dificuldade que tinha em 2016/2017: times pouco agressivos que parecem se contentar com o 1×0 acima de qualquer coisa. Burocracia pura.
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“Mas, Henrique… como que pode esses jogadores parecerem sempre cansados e recuarem sempre que fazemos 1×0 contra qualquer um, o que acontece com estes caras?” É aí que entra a mentalidade do que é passado para o grupo enquanto ambição e resultado esperado. A frase inicial desse texto exemplifica a maneira como Autuori vê futebol. “Saber sofrer” é seu mantra. Mas precisa sofrer tanto? Somos um time da série C que joga série A e que precisa dar a vida para não perder? Temos tanta dificuldade técnica assim que após marcar um gol preferimos abrir mão de tentar mais gols para ficar com os famosos 3 zagueiros rebatendo bola dentro da pequena área? Mentalidade.
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O jogador de futebol é o funcionário e o treinador é seu “chefe”. Basicamente o grupo de jogadores, assim como você na sua empresa, passa a fazer parte de uma cultura organizacional assim que é contratado. Se você passa meses ouvindo seu chefe dar N desculpas usando calendário, gramado, altitude, arbitragem, CBF e etc você passa a entender a mensagem de que o que vier é lucro. Em caso de insucesso já temos a desculpa pronta e a culpa não será minha. Meu chefe sempre fala que somos vitimas do ambiente externo.
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Mas por que exatamente precisa “Saber sofrer” tanto assim? E o sacrifício? É por ter que jogar uma vez por semana? O discurso sofrido nos aproxima muito mais da média ou mediocridade do que de voltar a olhar para objetivos maiores. É questão de jogar acreditando que dá pra realizar coisas grandes e não de que somos os injustiçados do futebol mundial.
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“A bola é minha, o campo é meu, a bola que tá no pé deles também é minha. É time de guerra!”
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“O que nos une a partir desse momento é um sentimento… sentimento de realização, um sentimento de valorização, e que a cada dividida a gente vai botar nossa vida em jogo. Então entra ali sem medo de morrer…”
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“Eu sei que é um jogo importante, mas entra, joga pra cacete e ganha dos caras”
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“Hoje é momento de ser letal, de ser perigoso, de ser grande”
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“Desfrutem isso aqui”
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Isso aqui sim são discursos que combinam com a mentalidade dos tais 4 ventos que o clube tanto repercute. Isso aqui sim é discurso de quem cria ambiente de fome de fazer história. Isso aqui sim é discurso de quem levanta taças inéditas jogando para fazer O ADVERSÁRIO SOFRER.
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Sou totalmente grato pelo G6 de 2016 e também pelo resgate de 2020 que Autuori nos proporcionou, mas infelizmente acho que esse discurso dele tem tudo pra tornar nossa mentalidade cada vez mais mediana/medíocre a ponto de se complicar em um grupo facílimo de Sulamericana e discursar com vitimismo e sofrência. Ou “sofrimento” vai virar o 5° vento?