Se em 2018 começávamos a subir de patamar, hoje chegaremos aos nossos objetivos mais preparados, cascudos e campeões
Se alguém me dissesse lá no meio de 2018 que estaríamos onde estamos hoje, eu responderia com uma risada. Um time desacreditado, lutando contra uma ZR e ainda passando por mudança no comando técnico conseguir dar a volta por cima, jogar futebol, encerrar o ano campeão da Sul-Americana, com um 2019 de agenda cheia por vir e ainda ser campeão da Copa do Brasil, seria muito para qualquer torcedor imaginar.
Méritos totais de Tiago Nunes, que conseguiu entender e incorporar o modelo de futebol que o Athletico queria, que conseguiu transformar a união da equipe com os torcedores em uma verdadeira sintonia, que começamos a jogar futebol, a encantar, a ter um toque de bola perfeito e objetivo. Começamos a gostar do campo.
E, enfim, chegamos. Fizemos uma Sula pouco a pouco, jogo a jogo e, com um time e torcida unidos, chegamos na final com a sorte de campeão do nosso lado. Trouxemos um caneco e, com ele, uma classificação para a tão sonhada Libertadores, que nos daria o direito de entrar na Copa do Brasil apenas nas oitavas.
O tão aguardado ano do futebol chegou. Fizemos uma fase de grupos não tão perfeita, tivemos a bomba do doping de Thiago Heleno e Camacho, mas foi cheia de alegrias. Começamos de cara com uma derrota para o time que, supostamente, seria o mais fraco. Depois, uma vitória perfeita e inesquecível diante do gigante Boca Juniors. Partidas médias contra o Jorge Wilstermann e uma ajudada em resultados. Acabamos em segundo e, quis o destino, que as oitavas viessem justamente com um grande conhecido do grupo: o Boca.
Parada para a Copa América, saída de Renan Lodi, a volta das competições, os desfalques, os pedidos de reforços cada vez mais fortes e a decepção da chegada de novos jogadores fora dos prazos de inscrições. O meio do ano já parecia ter se perdido.
Fomos para o mata-mata. Jogamos, mas pecamos. Caímos na boa marcação, nos derrotamos ao não conseguir jogar o que sabíamos jogar na La Bombonera. Mas como a frase que aprendi durante um intercâmbio, “tudo é aprendizado”. Vieram as oitavas da Copa do Brasil. Ganhamos com apenas um gol no total das duas partidas contra o Fortaleza. Avançamos e, assim como na Sula, estávamos indo jogo a jogo. Veio o Flamengo, um empate em casa e uma decisão em pleno Maracanã.
Na partida de volta contra os cariocas, as emoções começaram. Uma partida controlada no primeiro tempo e, no segundo, levamos gol aos 16 minutos. Tivemos que segurar e torcer muito, para o empate vir só aos 31. Depois disso, mais dois perigos que rezamos muito para entrar e decidir de vez. Mas fomos aos pênaltis e, como um verdadeiro Santo que é, nosso goleiro pegou dois pênaltis, nos classificando com muita emoção para as semis.
Na semifinal, levamos 2×0 do Grêmio e o clima pós-jogo era de eliminação. Durante a semana, fomos criando clima, fomos buscar lá atrás inspiração, mudamos o pensamento e passamos a entender que dava. Que não éramos mais os mesmos. E, diante dos gaúchos em casa, com ONZE desfalques, fizemos o que todo mundo dizia ser impossível. E chegamos a outra final, depois de outra disputa por pênaltis, só oito meses depois. A partir dali, já nos sentíamos diferentes.
E a final chegou, em um jogo que podíamos ter aberto vantagem, fomos com um gol a nossa favor para a decisão. Tudo bem, finais não costumam ter grandes placares. Chegamos ao Beira-Rio em mais uma experiência com o passado, uma vontade de fechar o portal de vez. Acabar com o fantasma da Libertadores de 2005.
Em mais um jogo emocionante, cheio de perigos, conseguimos mostrar como aprendemos a jogar. Seguramos, fomos objetivos ao marcar o gol, levamos outro na bobeira, porém soubemos levar a partida e deixamos o melhor para o final. Fechamos o caixão com estilo em um lindo drible de Marcelo, justo o Marcelo. E o gol de Rony, para coroar a temporada.
Mais um caneco na conta. E se antes nos sentíamos em dúvida quanto a mudança de patamar, respondemos ganhando mais uma taça. Em 2020 teremos outro calendário cheio e, com ele, um time mais preparado. Ou, pelo menos, com uma consciência e auto-estima mais forte. A diferença já é notável na postura em campo. Só espero eu estar mais preparada para tão fortes emoções assim (juro que não aguento mais sete disputas de pênaltis).
E foi assim, passo a passo, que criamos casca. Se em 2018 fomos o time de guerra, em 2019 aprendemos a ser o time do futebol. Crescemos, encaramos cada passo como um aprendizado e podemos dizer que aprendemos bem. Encontramos soluções em casa, jogamos com “reservas” (que chegaram pedindo espaço) e provamos ter elenco, algo que ninguém lá atrás acreditava. Mas aprendemos isso mais do que tudo: a acreditar. E o poder que acreditar tem.
Chegaremos mais preparados para as competições. Mais pesados, mais atentos, mais crescidos. Criamos casca aprendendo e, no final, fizemos os outros aprenderem algo: a nos respeitar também. Hoje, com um resto de Brasileirão a ser jogado na tranquilidade de poder experimentar, a cada jogo roubando pontos, crescendo e provando que ainda queremos jogar, criando ainda mais técnica e preparo, apesar das incertezas para o ano que vem, é que a gente também criou nossa casca, nosso escudo e levamos uma só coisa na garganta:
LIBERTADORES, ESTAMOS CHEGANDO!