Lodi, Bruno Guimarães & Cia: A importância dos aspirantes ao Athletico

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A filosofia de um time alternativo no campeonato estadual vem começando a gerar bons frutos ao Furacão; tendência é que novas revelações surjam

Inserida pela atual gestão em 2013, a estratégia de utilizar um time alternativo no Campeonato Paranaense, em um primeiro momento, não foi bem aceita pela torcida. A pressão por um título era grande, e argumentos contrários à iniciativa logo começaram a ser vistos nas conversas atleticanas. A perspectiva, à época, era que o clube não teria nada a ganhar com a filosofia – a única consequência imediata seria concorrer utilizando um time inferior, tecnicamente, ao que o clube possui. 

 

Este pensamento se deu, também, pelo fato do Athletico estar voltando de uma segunda divisão do Campeonato Brasileiro, fazendo com que um título fosse necessário para selar o ciclo ruim que havia passado com a queda em 2011 e a disputa da série B em 2012. Apesar de ter utilizado um time de aspirantes para proporcionar uma pré-temporada maior ao elenco principal, a comissão técnica rubro-negra encontrou uma forma de revelar talentos. Com uma estrutura de ponta e sempre reconhecido pelo trabalho de base, o Furacão percebeu rápido a possibilidade de utilizar o campeonato estadual como uma oportunidade para jovens jogadores desenvolverem seu potencial. 

 

Mas engana-se quem acredita que somente atletas foram revelados nestes anos em que o projeto está implantado. Tiago Nunes, já considerado um dos maiores treinadores da história do Athletico, também surgiu por meio da proposta com os aspirantes. O treinador foi revelado durante o Campeonato Paranaense de 2018, em que se sagrou campeão com o plantel que contava com Bruno Guimarães, Léo Pereira e Renan Lodi. Nunes, na última quarta-feira (26), completou um ano no elenco principal rubro-negro, tendo conquistado o primeiro título internacional do Athletico após assumir o comando do time em baixa, na zona de rebaixamento do Brasileirão.

 

O projeto 

 

Ainda que tenha mais destaque a partir de 2013, o projeto de contar com um time de aspirantes no estadual é uma ideia antiga do Athletico, que tem início em 2005. A tentativa, naquele momento, não engrenou e o time comandado por Lio Evaristo realizou apenas cinco partidas, sendo três vitórias, um empate e uma derrota. No entanto, nomes conhecidos no futebol brasileiro puderam ser notados, como Durval, Morais e Jorge Henrique. 

 

Após dois anos, o clube optou por uma nova tentativa, em 2007, que também não se consolidou. A equipe daquele ano realizou oito partidas, sendo três vitórias, três derrotas e dois empates. Naquela temporada, mais dois nomes: o zagueiro Chico e o meia Evandro, atualmente no Antalyaspor e Hull City, respectivamente.

 

Em 2013, o projeto foi resgatado pela atual diretoria. O time, comandado por Arthur Bernardes, ficou com o vice-campeonato estadual. Em 2014 e 15, os aspirantes não agradaram e, com pouco brilho, deram espaço para o elenco principal em 2016, sob o comando de Paulo Autuori, que conquistou o título. Na temporada seguinte, unindo aspirantes a elenco principal, o Furacão ficou novamente com a segunda colocação.

 

Bi-Campeonato: resultados começam a surgir

 

Em 2018, o Furacão finalmente engrenou. Com o time B, foi campeão incontestável do Campeonato Paranaense, com atuações sólidas e de grande qualidade técnica e tática. Tiago Nunes, treinador até então desconhecido contratado para a disputa do estadual, começava a demonstrar o porquê de ter se tornado, atualmente, um dos maiores comandantes da história do Athletico. 

 

 

Elenco campeão paranaense de 2018. Athletico 2 x 0 Coritiba. (Foto: Geraldo Bubniak/AGB)

 

Com o elenco que foi fundamental na recuperação de Léo Pereira e no lançamento de Bruno Guimarães e Renan Lodi, o rubro-negro tomava o controle da partida na maioria das ocasiões, com triangulações rápidas, verticalidade e muita qualidade nas jogadas ofensivas. O time de Tiago Nunes disputou 16 partidas, com dez vitórias, cinco empates e uma derrota. Destaque também para João Pedro e Matheus Anjos, hoje emprestados ao Paraná Clube, que desempenharam um ótimo papel na conquista.

 

Em 2019, na disputa deste ano, o Furacão não atingiu o brilho de 2018, mas também se sagrou campeão. Sob o comando do técnico Rafael Guanaes, o clube teve sete vitórias, três empates e quatro derrotas, conquistando o Bi-Campeonato Paranaense com o plantel alternativo. A edição foi importante para a sustentação de Lucas Halter no elenco principal, uma das jóias lapidadas pelo Furacão.

 

O aproveitamento de aspirantes: do estadual ao principal

 

Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Athletico é caracterizado como um clube especializado na formação de atletas, tendo recebido da entidade o Certificado de Clube Formador (CCF). No título da Copa Sul Americana, por exemplo, dos 11 titulares que iniciaram a partida, cinco foram formados nas categorias de base do Furacão: Santos, Léo Pereira, Renan Lodi, Marcelo Cirino e Pablo. Dos citados, somente Cirino não passou pelo time B.

 

O rubro-negro, no cenário nacional, sempre foi reconhecido como um clube referência em projetos de base. Desde 1997, estuda metodologias para fomentar o desenvolvimento de jogadores. Assim, pode-se dizer que unir um campeonato estadual à oportunidade para atletas despontarem no elenco principal é uma proposta com a inovação característica do Athletico.

 

A ascensão de jogadores como Renan Lodi e Léo Pereira se torna mais suscetível a acontecer por meio destas iniciativas. Além do aproveitamento de crias da base, o campeonato estadual pode ser uma oportunidade para testar promessas contratadas, como o caso de Bruno Guimarães, vindo do Audax em 2017.

 

Outro fator importante ao Furacão são as receitas geradas com transferências de jogadores. Fora dos grandes centros, o clube tem a formação de atletas como uma das principais fontes de renda. De acordo com dados do portal alemão Transfermarkt, foram 67,24 milhões de euros com a negociação de jogadores revelados pelas categorias de base ou contratados para o time de aspirantes desde 2013, incluindo a recente transferência de Renan Lodi. Na cotação atual, são quase 300 milhões de reais.

 

A tendência é que cada vez mais jogadores de qualidade sejam revelados pelo Athletico, que passa a investir, além dos projetos de formação, na negociação de jovens promessas para serem aproveitadas no Campeonato Paranaense. Não é possível precisar em quantos anos surgirá um novo Renan Lodi, Léo Pereira ou Bruno Guimarães. O que se pode afirmar é que o clube, pioneiro em diversas áreas, começa a estruturar um ciclo contínuo de renovação com a possibilidade de alavancar seu patamar ao longo dos próximos anos.

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