O Furacão quer se tornar o "maior formador de atletas do planeta" e Petraglia detalha Saf: "nosso projeto ficou realmente caro"
O presidente do Athletico, Mário Celso Petraglia, confirmou melhora em seu estado de saúde, disse que o clube chegou em seu “limite” sem um investimento externo e projetou a negociação sobre a venda da Sociedade anônima do futebol (Saf) do Furacão: “nosso projeto ficou realmente caro”.
Em entrevista ao Ge, Petraglia atestou que voltou a participar da tomada de decisões da gestão do Athletico, mesmo que ainda trabalhando de sua casa: “Não me sinto na condição de voltar plenamente, então estou atendendo o clube de casa, por telefone, videoconferência; quando necessário, alguém vem aqui. Eu pedi licença para deixar a torcida sabendo das minhas condições, mas a princípio está tudo bem. Estamos tocando os projetos.“
Como noticiado pela Trétis, presidente atleticano foi protagonista, por exemplo, na decisão do clube em manter o técnico Wesley Carvalho no comando da equipe profissional. Petraglia se recupera das repercussões de cirurgia reparadora no intestino e no abdômen e chegou a deixar o comando do Athletico em determinado momento.
Em comunicado emitido pelo clube, foi instaurado mandato de comissão gestora composta pelo CEO de futebol e negócios internacionais, Alexandre Mattos, pelo diretor financeiro, Márcio Lara, pelo diretor de patrimônio, Fernando Avelino Volpado, pelo presidente dos conselhos administrativo e deliberativo, Aguinaldo Coelho de Farias e pelo diretor jurídico Rodrigo Gama.
Mattos e Lara, inclusive, estiveram em excursão pelos Estados Unidos para mapeamento de propostas para a venda da Saf do Athletico. Petraglia confirmou “roadshow” pelos EUA, e relacionou a importância do investimento com os resultados esportivos:
“A gente tem consciência que ganha sempre aquele que tem mais fluxo de caixa, porque tem mais condições de contratar atletas, comissão técnica, que enriquece a sua área técnica com valores de altíssimo nível. Não chegamos lá ainda.”
Petraglia admite que Furacão atingiu teto do que poderia crescer apenas com o investimento que tem disponível neste momento:
“Nós batemos no teto, eu diria. Chegamos no nosso limite. Nossa torcida é reduzida, um terço da torcida do Atlético-MG, do Cruzeiro, do Grêmio e do Internacional, que são clubes que maturaram na década de 70. O Athletico ficou pra trás. A maturação tem acontecido agora, no final do século, e leva 50, 60 anos para formar uma torcida. Ainda o Paraná é um fenômeno à parte, porque são três Paranás. O Paraná paranaense, o gaúcho e o paulista. Temos essa dificuldade ainda, mas estamos crescendo.”
Projeto do Athletico é caro
Em entrevista concedida, Petraglia confirma que o Athletico contratou o Bank of America, banco estadunidense, para ter contato facilitado com propostas de possíveis investidores. Presidente do clube comentou a diferença do preço do Athletico para as outras Saf’s:
“Nosso projeto ficou realmente caro, comparativamente aos outros, dos endividados, que estavam vendendo pelo preço de um jogador de futebol. Esse pessoal na primeira onda veio muito mais para dar um calote nos credores […] não tinha outro caminho. Senão os clubes iam quebrar e quebraria a indústria do futebol brasileiro em pedaços.”
Petrglia continua avaliação sobre os outros projetos no Brasil e justifica essa demora do Athletico em encontrar um parceiro: “Nós não fomos os primeiros justamente por não termos a dificuldade do endividamento. Por mais paradoxal que pareça. O Coritiba vendeu 90% de seus direitos, de sua companhia, para um fundo. Tudo indica que vai cair para a segunda divisão. O Vasco também está nessa leva aí. Só o Botafogo, caso à parte, encaixou o time, enquanto os outros jogavam três competições.”
Para Petraglia, Furacão tem condições de competir mesmo sem investimento externo, dados os títulos de Copa do Brasil e Copa Sul-americana vencidos na história recente. Presidente projetou o que um possível investidor precisaria mostrar:
“O fator determinante é a afinidade com o futebol. Não adianta só ter o dinheiro. Nós não queremos ficar com a responsabilidade total da gestão do clube, principalmente por aquilo que eu disse dos possíveis e ávidos… Porque o futebol é muito corrupto, lamentavelmente. Nós queremos fugir dessa corrupção, e eu só vejo essa fuga generalizada se todos… Claro que tem alguns clubes, Flamengo e Corinthians, com grandes torcidas, que será politicamente mais difícil. Mas nós queremos e já fizemos a primeira rodada no ano passado. Nós estamos na linha, ainda, de sentimento do mercado.”
Segundo o presidente do Athletico, clube se prepara para diferentes cenários nessa negociação de venda da SAF. Quando questionado se a venda envolveria a Ligga Arena, ou a estrutura do CT do Caju, Petraglia detalhou:
“Nós temos vários desenhos. Quando entra todo o ativo, dá um valor alto, muito alto. Não sei se vai ter investidor disponível para querer investir todo esse valor. Depois temos investimento sem o estádio, que já baixa bastante. Depois temos investimento sem estádio e CT, que baixa mais. Então vamos ver a disponibilidade do bolso dos parceiros, o que eles pretendem, porque não podemos esquecer que o capital que eles vão investir vai ficar na própria companhia. Não tem para quem vender, não estão comprando o controle acionário de uma companhia que o portador dessas ações está levando o dinheiro embora. Ele está comprando e o dinheiro vai ficar no próprio giro da companhia.”
Entre possíveis investidores, presidente confirmou apenas um – o grupo City, dono do Manchester City e de clubes ao redor de todo o mundo, como o Bahia. O desejo de protagonismo do Athletico, porém, evitou com que negociação desse certo: “havia um interesse, mas como seríamos sempre o segundo clube, a gente nem conversou com eles. Nós somos pobrinhos, mas limpinhos.”
Ambição: expansão da torcida e formação de atletas
Petraglia considera que o aumento no número de torcedores do Athletico é essencial para o crescimento financeiro. Presidente comenta fato, mas também projeta investimento de possíveis recursos na manutenção de jogadores competitivos no clube:
“Hoje já somos a maior torcida do estado; quando chegamos, era o Corinthians. Mas é lenta e gradual [a expansão]. Agora nós precisamos desses recursos para investir mais e mais naquilo que é estratégico, e nós temos demonstrado, pela nossa condição de mercado, de vendas de atletas… Bruno Guimarães, agora o Vitor Roque, e vários outros. Nós vendemos dois dígitos de euros e construímos tudo isso com vendas de jogadores. Sacrificando, muitas vezes, a performance em campo, porque você vende teu craque e ele não joga mais pelo teu time.”
O presidente volta a citar o caso de Bruno Guimarães como um exemplo: “outro aspecto da necessidade do capital é a manutenção do nosso atleta. O Guimarães quando chegou para mim: “ô, presidente, eu vou ganhar 800 mil euros por mês no primeiro ano, você não pode tirar essa oportunidade de mim”. O que eu vou dizer para ele? Vai à vida, meu filho, seja feliz. A vida do jogador é curta, e se você não fizer teu pé de meia, depois você vai ser o quê? Então nós queremos capital também para a manutenção desses atletas.”
Além de manter jogadores jovens de grande nível, o Athletico visa se tornar expoente na prospecção de atletas promissores: “queremos grande parte deste capital que deve entrar para destinar à formação de jovens. Trazer jovens da África, da Austrália, da América, da Europa, que seja, trazer para cá para formar.”
Nesse sentido, clube formou parceira de cinco anos, prorrogáveis por mais cinco, com o Ajax-HOL para que clubes cooperem na prospecção e no desenvolvimento de jogadores jovens sul-americanos. Furacão, também, enviou representantes de sua categoria de base para torneio em Gana, no final do mês passado.
Petraglia confirma intenção do Athletico: “Nós queremos contratar jogadores jovens, com potencial, e mantê-los aqui. Queremos aumentar a escala da formação. O nível, o índice de formação, é um por mil. Eles já foram peneirados e peneirados, chegam ao CT e saem dois ou três por ano. Só não estamos correndo desesperadamente para fazer o primeiro negócio.”
Liga de futebol
Petraglia dá forte importância para a evolução do futebol brasileiro à criação de uma Liga em que os clubes teriam poder de gestão e poderiam negociar venda de direitos de transmissão internacionais, por exemplo:
“Eu só vejo o futebol brasileiro crescendo, se desenvolvendo, tendo autonomia, liberdade, transparência, se criarmos uma liga independente. Da forma que é conduzido o futebol brasileiro, com todo respeito que tenho a todos, dificilmente daremos um passo à frente. Vamos ficar correndo atrás do rabo, que nem cachorro. Perdendo tempo, aviltando nossos preços, vendendo o direito internacional por valores absurdos de baratos. Então, se não profissionalizarmos…”
O Athletico, representado por Petraglia, é um dos líderes da iniciativa da Liga Forte do Futebol, projeto que contesta o modo com que foi formada a LiBra, outra proposta de liga para o futebol brasileiro. A mote da LFF é a mínima diferença na venda de direitos de cotas de televisão entre os clubes participantes e, quando perguntado sobre o que faria com o dinheiro, o presidente detalhou: “Vamos aplicar nos juros e não gastar um tostão!”